A Doutrina das Formas Superiores







Por Sir Oswald Mosley


Desde a guerra eu enfatizei cinco objetivos principais. A verdadeira união da Europa; a união do governo com a ciência; o poder do governo para agir rápido e decisivamente, sujeito ao controle parlamentar; a efetiva liderança do governo para resolver o problema econômico usando o mecanismo salário-preço nos dois pontos-chave  do mundo industrial moderno; e um definido propósito para um movimento da humanidade em formas cada vez mais elevadas. 


É estranho que, nessa última esfera dos pensamentos mais abstratos, minhas ideias tenham atraído mais das mentes jovens do que minhas propostas práticas na economia e na política. A razão talvez seja que as pessoas buscam mais o ideal do que o prático durante um período em que a ação não se sente mais necessária. Isso é encorajador para um futuro definitivo, em que, através da ciência, o mundo pode se tornar livre da atormentadora ganância de coisas materiais e pode-se focar no pensamento sobre as coisas elevadas e belas, que inspiram. Mas a verdade é que primeiramente muitos problemas factuais e perigos realmente ameaçadores devem ser enfrentados e superados.


A tese das formas superiores foi  precedida por um desafio fundamental para a ampla afirmação de comunistas de que a história está do lado deles. Ao contrário, eles são prisioneiros permanentes de uma fase transitória do avanço da humanidade que a ciência moderna fez com que se tornasse inteiramente obsoleta. Não apenas a brutalidade primitiva dos seus métodos é possível apenas em uma nação muito atrasada, como também o pensamento inteiro deles é aplicável apenas em uma sociedade primitiva. Ambos, sua forma econômica e sua concepção materialista da história pertencem ao século dezenove. Esse pensamento, preso em uma limitação temporária, nós desafiamos com o pensamento derivado de toda a história europeia e com a ajuda definitiva dos conhecimentos revelados pela ciência moderna. Nós desafiamos as ideias do século dezenove com as ideias do século vinte.


O comunismo ainda é mantido pela obsoleta doutrina de sua origem. Precisamente porque é um credo que não reconhece nada além de suas motivações e que surge para satisfazer nada mais que suas necessidades. O homem moderno já superou esta condição tão certamente quanto a aeronave em ação também já “superou” a lei natural da gravidade que Newton descobriu. Essa mesma inspiração da natureza espiritual do homem auxiliado por sua contínua evolução científica pode inspirar o mesmo nas conquistas cada vez maiores e na ambição do mesmo por sempre voar cada vez mais alto.


O desafio ao materialismo comunista se deu da seguinte forma em Europa: Fé e plano:


O que, então, é o propósito disto tudo? É apenas a conquista material? Estarão todos os desejos satisfeitos quando todos tiverem o que comer e beber, todo tratamento possível contra as doenças e a velhice, uma casa, uma televisão, e uma viagem para ver o mar todo ano? Que outro fim a civilização comunista pode dar com exceção disso, que a ciência moderna poderá tão facilmente satisfazer dentro dos próximos anos?

Se você acredita que toda a história pode ser interpretada apenas em termos materiais, e qualquer propósito espiritual é uma falha é uma ilusão, que tem o simples objetivo de distrair os trabalhadores de sua ascensão material – a única realidade – que fim poderá existir que não o de alcançar absolutamente todo bem material possível, e unicamente a satisfação material? Quando todos os bens básicos e todos os desejos estiverem supridos pelos excedentes da nova ciência, que outra ambição poderia haver senão a de obtenção de diversões cada vez mais fantásticas para excitar os apetites materiais? Se a civilização soviética atingir suas ambições mais extremas, o fim será uma corrida de sputnik em torno das estrelas para aliviar o tédio de ser comunista?


O comunismo é uma crença limitada, e suas limitações são inevitáveis. Se o impulso original é a inveja, a malícia e o ódio contra alguém que tem algo que você não tem, você está totalmente limitado pelo impulso pelo qual se originou sua fé e movimento. Esse sentimento inicial talvez seja bem fundado, talvez seja baseado em justiça, na indignação contra o tratamento vil dos trabalhadores nos primeiros dias da revolução industrial. Mas se você mantém esse credo, você carrega dentro de si as paredes da sua própria prisão, porque qualquer fuga dessa origem parece levar à forma odiada do homem que um dia teve algo que você não tinha; qualquer coisa acima ou além de você é ruim. Em realidade, ele pode estar longe de estar nas formas superiores; ele talvez possa ser o produto mais decadente da boa vida, onde ele se mostra incapaz de usar qualquer coisa para o auto-aprimoramento, ele pode ser um exemplo ignóbil de oportunidade perdida. Mas se o primeiro impulso é sentir inveja e raiva dele, você é inibido de movimentar-se um passo sequer além de si mesmo, por medo de tornar-se como ele, o homem que tem algo que você não tem. 


Assim, o seu ideal se torna não algo além de você, menos ainda além de tudo o que existe agora, mas sim a forma petrificada e fossilizada daquela parte da comunidade que estava mais oprimida, sofrendo e limitada por todas as circunstâncias materiais em meados do século XIX. O objetivo real, então, é derrubar tudo ao mais baixo nível de vida, ao invés de buscar alcançar o mais alto nível de vida que já foi alcançado, e finalmente se mover adiante disso. Em todas as coisas esse sistema busca o que está no mais baixo nível ao invés do mais alto.


Dessa forma, o comunismo não tem mais nenhum apelo profundo para a sã e sensível massa de trabalhadores europeus que, em extrema contradição à crença marxista de aumentar sua “miséria”, moveram-se por si próprios através dos esforços em seus sindicatos e pela ação política para ter ao menos uma participação parcial na abundância que a nova ciência tem produzido, e para um modo de vida e uma perspectiva em que eles não se reconhecem de forma alguma como as figuras miseráveis ​​e oprimidas dos trabalhadores originais do comunismo.


O ideal não é mais a martirizada forma do oprimido, mas sim o início de uma forma superior. Os homens estão começando a olhar não para baixo, mas sim para cima. E precisamente nesse ponto que uma nova forma de pensamento político pode dar forma definitiva para o que muitos estão sentindo que é um novo impulso da humanidade. Isso tornou-se um impulso da natureza por si, e o homem torna-se livre da opressão sufocante das necessidades primitivas. 


O ideal de criar uma forma superior na terra pode agora ascender ante o homem com o poder dos propósitos espirituais, o que não é simplesmente uma abstração filosófica mas a concreta expressão de um desejo profundo da humanidade. Todo homem quer que suas crianças vivam melhor que ele viveu, assim como tentaram por seus próprios esforços elevar-se além do nível de seus pais, cujo afeto e sacrifício frequentemente lhes davam a chance de fazê-lo. Este é um desejo correto e natural da humanidade e, quando totalmente compreendido, torna-se um propósito espiritual.


Esse propósito eu descrevo como a doutrina das formas superiores. A ideia de um movimento contínuo da humanidade da ameba para o humano moderno e nas formas superiores tem me cativado desde meus dias na prisão, onde eu fiquei totalmente ciente da relação entre ciência moderna e filosofia grega. Possivelmente é a simplicidade da tese o que gera sua força; o homem movendo do primitivo para a ciência moderna revela para o presente estágio da evolução e continuando nessa longa ascensão para as alturas além da nossa visão presente, se o impulso da natureza e a proposta da vida estão para serem completadas. Enquanto simples ao ponto do óbvio, em análise detalhada isso é o exato oposto dos valores prevalecentes. A maioria dos grandes impulsos da vida são, em essência, simples, por mais complexos que sejam sua origem. Uma ideia pode ser derivada de três mil anos de pensamento e ação europeia, para finalmente se fixar de uma forma que todos os homens podem entender. 


Meu pensamento sobre este assunto foi finalmente reduzido ao extremo da simplicidade na conclusão de Europa, Fé e Plano:


Acreditar que o propósito da vida é o movimento das formas inferiores para as formas superiores é registrar um fato observável. Se nós rejeitarmos esse fato, nós rejeitamos todos os achados da ciência moderna, assim como a evidência sob nossos próprios olhos... É necessário acreditar que há um propósito na vida, porque nós podemos observar que essa é a forma que o mundo funciona, acreditando em propósito divino ou não. Uma vez que acreditamos que essa é a forma que o mundo funciona, e deduzimos dos longos registros que há apenas uma forma que isso funciona, isso torna-se o propósito porque isso é a única forma que o mundo poderia funcionar no futuro. Se o propósito cai, o mundo cai. 

O propósito há muito tempo conquistou os mais incríveis resultados – incrível para qualquer pessoa que tivesse sabido com antecedência o que iria acontecer – ao funcionar desde a mais primitiva forma de vida até as alturas mais relativas do presente desenvolvimento humano. O propósito se torna, portanto, muito claramente, à luz do conhecimento moderno, um movimento das formas inferiores para as superiores. E se o propósito dessa maneira foi tão longe e alcançou tanto, é razoável supor que continuará assim, se é que continua; se o mundo durar. Portanto, se nós queremos sustentar a existência humana, se nós acreditamos na origem da humanidade que a ciência agora deixa claro, e em seu destino, que a continuação do mesmo progresso torna possível, devemos desejar ajudar ao invés de impedir o propósito discernível. Isso significa que devemos servir ao propósito que move do inferior ao superior; isso se torna nossa crença de vida. Nossa vida agora é dedicada ao propósito. 


Em termos práticos isso certamente indica que nós não devemos falar para o homem se contentar consigo mesmo como são, mas que devem lutar para alcançar algo além do que já são... Para assegurar os homens que nós temos que superar nós mesmos, e isso não implica que o homem é perfeito, isto que é certamente uma presunção extremamente arrogante. É também uma loucura muito perigosa, porque está rapidamente se tornando claro que, se a natureza moral e a estatura espiritual da humanidade não puderem aumentar mais proporcionalmente com suas realizações materiais, corremos o risco de morrer no mundo...


Nós precisamos aprender para viver. Nós precisamos restaurar a harmonia com a vida e reconhecer o propósito em vida. O homem liberou as forças da natureza assim como se separou da natureza; este é um perigo mortal e se reflete na neurose da época. Não podemos ficar apenas onde estamos; é uma situação incômoda, perigosa e impossível. O homem deve ir além de seu eu presente ou falhar; e se ele falhar desta vez, o fracasso é definitivo. Essa é a diferença básica entre esta idade e todos os períodos anteriores. Nunca antes foi possível que esse fracasso dos homens acabasse com o mundo.


Não é apenas um objetivo razoável lutar por uma forma mais elevada entre os homens; é um credo com a força de uma convicção religiosa. Não é apenas uma necessidade evidente da nova era da ciência que o gênio da mente do homem trouxe; está de acordo com o longo processo da natureza dentro do qual podemos ler o propósito do mundo. E não é um objetivo pequeno e egoísta, pois trabalhamos não apenas para nós mesmos, mas por um tempo futuro. O longo esforço de nossas vidas pode não só salvar nossa civilização atual, mas também permitir que outros percebam e desfrutem mais plenamente da grande beleza deste mundo, não apenas em paz e felicidade, mas em uma sabedoria sempre revelada e consciência crescente da missão do homem.


A doutrina das formas superiores pode ter apelado para alguns em uma geração profundamente ciente do divórcio entre religião e ciência, porque era uma tentativa de síntese desses dois impulsos do movimento humano. Cheguei a dizer que as formas superiores poderiam ter a força de uma ciência e de uma religião, no sentido secular, uma vez que derivavam tanto do processo evolutivo reconhecido pela primeira vez no século passado, quanto da filosofia, talvez o misticismo, bem descrito como o 'devir eterno', que o helenismo primeiro deu à Europa como um movimento original e contínuo ainda representado no pensamento, arquitetura e música da principal tradição europeia.


Simplificar e sintetizar são os principais dons que o pensamento claro pode trazer, e nunca foram tão profundamente necessários como nesta época. É necessária uma síntese de cura, uma união do abraço calmo mas radiante do helenismo da beleza e maravilha da vida com o impulso gótico de novas descobertas que incitam o homem a ir além de seu equilíbrio atualmente precário até que a própria sanidade seja ameaçada. O gênio da Hélade ainda pode devolver à Europa o equilíbrio de vida, a base sólida a partir da qual a ciência pode apreender as estrelas. Aquele que pode combinar dentro de si essa sanidade e esse dinamismo torna-se assim uma forma superior, e além dele pode haver uma ascensão revelando sempre uma sabedoria e uma beleza adicional. É um ideal pessoal pelo qual todos podem tentar viver, um propósito na vida.


Podemos, assim, retomar a jornada a outros ápices do espírito humano com o equilíbrio e moderação conquistada nas lutas e tribulações destes anos. Podemos, mesmo neste tempo de tolice e adversidade sequencial, obter o equilíbrio da maturidade, o único que pode nos tornar dignos dos tesouros, capazes de usar o dom milagroso e também de evitar os perigos tempestuosos da ciência moderna. Podemos finalmente adquirir a mente adulta, sem a qual o mundo não pode sobreviver, e aprender a usar com sabedoria as maravilhas desta era.


Espero que este registro de minha própria pequena parte nestes “grandes negócios” tenham pelo menos mostrado que eu tenho “a repugnância a negociações mesquinhas e cruéis” que o “velho sábio” atribuiu a mim há muito tempo, e ainda assim tentou por alguma união do pensamento e vontade para combinar pensamento e ação; que tenho defendido com consistência a construção de uma moradia digna para a humanidade, e a todo custo contra a fúria e a loucura da destruição insensata e sem propósito; que segui a verdade como a via, aonde quer que esse serviço me levasse, e me aventurei a olhar e lutar na escuridão para um futuro que pode fazer tudo valer a pena.


FONTE: https://www.oswaldmosley.com/higher-forms/


Você pode saber mais a respeito do pensamento político de Oswald Mosley através de seus livros, traduzidos pela primeira vez no Brasil pela editora Episch Verlag
  1. A Política do Fascismo Britânico: https://epischverlag.com.br/produto/a...
  2. Fascismo: 100 Perguntas Respondidas: https://epischverlag.com.br/produto/f...

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