Economia Corporativa - Alexander Raven Thomson



 O Ensaio de 1935 do teórico da BUF, Alexander Raven Thomson sobre a teoria econômica fascista.


O seguinte ensaio, “Corporate Economics”, de Alexander Raven Thomson foi publicado originalmente no Fascist Quarterly, Vol.1, No.1, em Janeiro de 1935. The Fascist Quarterly (rebatizado de British Union Quarterly em 1936) foi o jornal teórico da BUF, com intenção de agir como uma espécie de contrapeso para o Left Book Club, fornecendo uma plataforma na Grã-Bretanha para a disseminação das vozes intelectuais do fascismo europeu. Raven Thomson foi uma dessas vozes - um ex-membro do Partido Comunista da Grã-Bretanha, ele se junto a BUF em Abril de 1933 e rapidamente se tornou o principal ideólogo do movimento. Um orador cativante, um escritor envolvente e profundamente influenciado pela filosofia spengleriana e pelo sindicalismo político. Thomson foi um revolucionário, um oponente radical do capitalismo de laissez-faire, que viu no Estado Corporativo a chave para a justiça social e a salvação da civilização ocidental. Seus escritos, como o ensaio extraído abaixo, fornecerem à BUF muitos de seus fundamentos teóricos.


Um grande problema foi criado para o mundo moderno pelo colapso do sistema econômico atual. Não podemos mais tolerar um sistema que condena a maioria de nós à pobreza em meio à maior abundância que a humanidade já conheceu, que priva milhões de pessoas do direito de ganhar a própria vida e traz cada vez mais perto o perigo de guerra na luta internacional pela contratação dos mercados mundiais. Qual é a causa desse colapso universal. Onde nós erramos?


Antes que possamos avaliar a causa do problema, precisamos considerar a natureza tríplice da sociedade organizada da seguinte maneira:


- Um Governo Central investido de autoridade para planejar e dirigir a vida nacional.


- Diversos Grupos Sociais com diversos objetivos e interesses.


- Uma massa de indivíduos dotados de poderes de iniciativa e empreendimento.


A teoria econômica clássica do século XIX preocupou-se quase inteiramente com o terceiro e menos organizado aspecto da sociedade, ressentindo-se da interferência do Estado ou do grupo nos assuntos econômicos. Em tempos anteriores de escassez comparativa, pode ter havido alguma justificativa para essa visão, visto que a iniciativa e o empreendimento do indivíduo eram então de vital importância no desenvolvimento de poderes latentes de produção e no avanço da invenção técnica. Obviamente o indivíduo desenvolveria seus poderes de iniciativa e empreendimento da melhor maneira possível, se fosse concedida a maior medida possível de liberdade econômica, e isso é exatamente a maior medida possível de liberdade econômica, e isso é exatamente o que os economistas da Escola de Manchester exigiam, quando defendiam o “laissez-faire” e o livre comércio.


Quaisquer que sejam as vantagens da liberdade econômica para resolver o problema da escassez, porém, ela se tornou uma ameaça positiva ao bem-estar social numa era de abundância. Não há necessidade de condenar a teoria econômica clássica como tal, mas devemos perceber que não pode haver “leis” absolutas da economia independentes da organização social. Sem dúvida, o sistema individualista, era muito necessário numa época de escassez, e temos que agradecer à Escola de Manchester por resolver o problema de produção, mas agora é chegado o momento de um novo sistema econômico que corresponda às necessidades de um novo tempo. O empreendimento individual encorajado pela liberdade total acabou com a escassez, mas é completamente incapaz de distribuir a abundância que criou para o povo como um todo. A produção, é, em sua própria natureza, um processo individual, ou, no máximo, de grupo; a distribuição, entretanto, é baseada nas necessidades de toda a comunidade, e, claro, não pode ser bem-sucedida sem uma grande medida de planejamento social consciente.


Socialismo e a Luta de Classes


Como o individualismo já passou do seu período de utilidade e se tornou um perigo real para o progresso econômico, é chegado o momento de voltar o foco do interesse econômico para o grupo social, ou para a nação como um todo. Até agora, aqueles que mais vigorosamente atacaram o sistema atual, e adotaram termos coletivos como “socialista” ou “comunista”, nunca realmente se elevaram acima das considerações do grupo.


Apesar de sua pretensão grandiloquente de “nacionalizar” os meios de produção, a própria base do apelo socialista e comunista reside no exagero da diferenciação de classes e na insistência na “guerra de classes”. Claramente, tal doutrina com consciência de classe pertence ao reino do grupo social e falha em qualquer apreciação de toda a comunidade como uma entidade orgânica viva. De fato, a ênfase dada pelos socialistas ao internacionalismo e sua negação do patriotismo confirmam sua incapacidade de compreender todas as implicações da organização social, que deveria se elevar muito acima das considerações de classe para a realização do propósito nacional. A “reductio ad absurdum” definitiva é alcançada quando o regime soviético na Rússia afirma que é a “ditadura do proletariado”, pois isso implicaria a ascensão permanente e consciente de um grupo sobre a vida nacional.


Na verdade, a guerra de classes se torna um completo absurdo em uma era de abundância, pois que objetivo pode haver em uma luta entre as classes quando há abundância para todos? A guerra de classes é nada mais nada menos do que uma relíquia horrível da era da escassez, que só pode perdurar até a era presente devido à ineficiência de nosso sistema econômico atual. Resolva o problema da distribuição e a guerra de classes chega ao fim. Em qualquer caso, a separação da sociedade em classes beligerantes é em grande parte uma invenção artificial de Karl Marx, pois a diferenciação entre classes proprietárias e exploradas está se tornando cada vez mais difícil, à medida que a vida moderna se torna cada vez mais complexa. Karl Marx não tinha ideia das grandes sociedades por ações que distribuíam a propriedade sobre um grande número de pessoas que normalmente ganham a vida na indústria; nem previu o grande número de organizadores e engenheiros, especialistas e técnicos, que seriam interpostos entre empregadores e trabalhadores pelo desenvolvimento da indústria moderna.


Mesmo se aceitarmos a divisão da sociedade em empregadores e trabalhadores, isso não significa necessariamente que seus interesses sejam opostos. É verdade que tanto empregadores como trabalhadores se consideram exércitos opostos com interesses conflitantes, mas isso decorre da incapacidade de aproveitar o benefício da organização coletiva para ambas as partes. No caso de cada empresa, é óbvio que os interesses do empregador e dos trabalhadores se opõem, e que se os trabalhadores exigirem salários muito altos, não haverá lucro sobrando para o empregador, enquanto se o empregador pode forçar os salários para baixo ele terá um lucro maior. Não se segue, no entanto, que empregadores e trabalhadores como um todo possam, portanto, beneficiar sua própria classe às custas da outra. Na verdade, em uma época de fartura, como atualmente, os interesses dos trabalhadores e dos empregadores andam de mãos dadas. Obviamente, a necessidade da indústria moderna é de mercados grandes e em expansão. A tentativa de encontrá-los no comércio internacional ilusório fracassou terrivelmente nos últimos anos, com o resultado de que agora os industriais estão se voltando cada vez mais para o mercado interno. Claramente, o poder de compra do mercado interno, no entanto, será determinado em grande parte pelos salários, de modo que realmente se tornou do interesse do empregador que os trabalhadores recebam salários mais altos para que possam comprar os produtos da indústria moderna. Certamente os trabalhadores socialistas não estenderão sua crença na guerra de classes ao ponto de recusar salários mais altos, porque eles irão beneficiar os empregadores!


O Conceito Corporativo


Vemos então que o sistema econômico atual falhou porque colocou muita ênfase nos interesses do indivíduo, mas que a doutrina socialista e comunista é igualmente culpada porque exalta o grupo social em detrimento da comunidade como um todo. O fascismo se volta para a terceira alternativa e insiste em tratar a comunidade como um único Estado corporativo organizado, controlado e planejado por um governo central com autoridade suficiente sobre o indivíduo e grupo para proteger o bem-estar geral do todo e promover o propósito nacional. Este é o conceito corporativo da nação como um organismo de ordem superior, mas essencialmente semelhante ao corpo humano, com seus órgãos e funções servindo a um propósito coletivo. É a base essencial da organização do regime fascista na Itália, que regula as relações dos empregadores e trabalhadores italianos segundo linhas de interesse comum, de acordo com as regras da famosa Carta do Trabalho (Carta del Lavoro).


Tal sistema, baseado num conceito inteiramente novo de propósito econômico, exigirá uma ciência igualmente nova de ajuste econômico às necessidades sociais. Acredito que essa nova ciência econômica será trabalhada nesse país, que há tanto tempo é o centro comercial mundial. Seria inútil ignorar o fato que a Itália e a Alemanha, os primeiros países a adotar uma constituição fascista, tiveram a maior dificuldade em desenvolver o lado econômico de seu regime, embora ambos tenham respondido muito melhor do que os países democráticos na tensão da depressão mundial. Devemos lembrar que, embora a democracia e os princípios liberais tenham chegado primeiro à França e ao continente, foi na Grã-Bretanha que as implicações econômicas do liberalismo foram elaboradas pela Escola de individualistas de Manchester. Como foi a Grã-Bretanha que deu ao mundo essa perigosa e quase desastrosa teoria econômica, será dever da Grã-Bretanha aplicar os novos princípios do fascismo à esfera econômica e produzir a estrutura comercial do futuro que substituirá os desacreditados resquícios do Livre Comércio Liberal.


Princípios Corporativos


Não pode fazer parte da presente discussão estabelecer a base de tal ciência, mas certos princípios da economia corporativa sugerem-se imediatamente em contraposição ao individualismo atual. No lugar do “homem econômico”, cuja busca pessoal era a base essencial da velha escola, teremos a “comunidade econômica” para a qual o indivíduo se dedicará ao serviço patriótico. No lugar de classes de homens combinados para proteger seus “interesses” comuns, teremos grupos ocupacionais combinando-se em serviço funcional à comunidade como um todo. Em lugar da competição de indivíduos que lutam para viver, cada um contra todos e o diabo fica por trás, teremos a cooperação de indivíduos para seu benefício mútuo.


Como esses princípios devem ser colocados em prática? Em primeiro lugar, sem dúvida, pelo exercício da autoridade. Disciplina e controle devem ser introduzidos no caos dos negócios econômicos atuais. Os horrores do sistema atual, que alimentam o fogo da guerra de classes e dão ao agitador socialista motivos para o seu ataque ao “capitalismo”, surgem em grande parte do exercício indevido do poder econômico pelo indivíduo poderoso que acumulou propriedade suficiente ou capital para exercer uma influência apreciável sobre os negócios comerciais, e, assim, promover seus interesses por métodos injustos. Sob o fascismo, nenhum indivíduo terá permissão para usar sua propriedade nesse sentido como um meio de exercer o poder em seu próprio benefício. “Poder” é o monopólio do governo.


Aqui temos a resposta completa ao socialista que exige a abolição do capital privado e a nacionalização dos meios de produção. É verdade que o capitalista privado abusou no passado de seu controle sobre o capital para promover seus próprios interesses, mas isso não quer dizer que tenhamos que abolir a propriedade privada, e sim garantir que o seu controle de seu uso seja feito para prevenir ações anti-sociais. Na realidade é que o socialista não passa de um burguês descontente, que inveja o capitalista por sua riqueza e poder. Por implicação, ele aceita o princípio burguês de que o proprietário pode fazer o que quiser com o seu próprio, e, portanto não pode encontrar alternativa para a exploração capitalista do que o confisco por atacado, que oprime o bom capitalista com o mal. O fascismo reconhece que o capital e o dinheiro dotaram os indivíduos de poder do qual abusaram no passado e exige do eleitorado e autoridade e meios de ação suficientes para lidar com os mais poderosos interesses investidos na terra. Como Oswald Mosley colocou de forma clara, “No capitalismo, o capital usa a nação em seu benefício, no fascismo, a nação usa o capital em seu benefício.”




Alexander Raven Thomson (primeiro à esquerda) e Oswald Mosley (centro)


Veja também: A CHEGADA DO ESTADO CORPORATIVO 


É claramente impraticável que o governo, embora poderoso e eficiente, tente o planejamento detalhado dos assuntos econômicos de toda nação. Isso seria uma negação de toda organização grupal, parte essencial do corpo político saudável, e tenderia a perpetuar e agravar a atual ameaça de burocracia que está se socializando rapidamente nesse país. Tanto socialistas quanto conservadores competem para aumentar o poder e a influência de Whitehall, que está rapidamente se tornando o “novo despotismo" que o Chefe de Justiça Chefe Gordon Hewart previu. Sob o fascismo, uma grande parte desse controle burocrático será devolvido mais uma vez ao longo de novas linhas de organização funcional para as Corporações que controlam as principais indústrias e grupos de indústria do país.


Corporações de Agricultura, Pesca, Transporte, Mineração e Remédios tomarão o lugar dos Ministérios em Whitehall, e serão compostas por homens que trabalharam em sua indústria e profissão e estarão muito mais preparados para controlá-la do que qualquer funcionário governamental permanente. Essas novas instituições de autogoverno industrial substituirão o autogoverno local, que está se tornando rapidamente desatualizado em face da rapidez das comunicações modernas e do planejamento mais amplo dos serviços públicos. Assim, a organização do grupo será transformada da base estrutural mais rígida do passado para a base mais flexível do futuro.


Uma medida de autogoverno será concedida às Corporações para resolver todos os assuntos internos relativos às indústrias que controlam, e empregadores, trabalhadores e consumidores serão representados no conselho da Corporação. Os empregadores serão representados por meio de seu sindicato, enquanto o governo nomeará representantes para os consumidores para zelar pelos interesses do público em geral e de outras empresas que estão particularmente interessadas no produto. A Corporação deverá estabelecer padrões de salários e condições de trabalho para a indústria entre empregadores e trabalhadores, e também preços e termos de competição entre empregadores e consumidores. Todos os acordos feitos serão juridicamente vinculativos para toda a indústria e qualquer empregador ou trabalhador que violar o que está em vigor no estatuto da Corporação será culpado de um delito pelo qual ele pode ser levado a um tribunal. Na verdade, tanto a federação de empregadores quanto o sindicato deverão manter a disciplina entre seus membros, que irão compor 100% do setor em questão. Com tais meios adequados de arbitragem, greve e bloqueio serão naturalmente, proibidos, mas os empregadores, trabalhadores ou consumidores podem apelar ao Ministro das Corporações em conselho com representantes de todas as corporações industriais para uma decisão justa de acordo com a prática industrial geral e bem-estar nacional. Será visto que por essa devolução de autoridade e autogoverno às Corporações, a legislação central será liberado de uma grande parte da legislação detalhada que atualmente dificulta o trabalho do Parlamento.


Uso da Organização Corporativa


Até agora, a nova economia pode parecer uma nova concepção interessante, mas de valor prático duvidoso para compensar sua complexidade considerável. Tal sistema não é, entretanto, concebido meramente como um exercício intelectual, mas tem imensas vantagens justamente onde o sistema atual é particularmente fraco. Por exemplo, consideremos o pior problema de todos, o da pobreza em meio à abundância, decorrente do que os conservadores chamavam de “superprodução”, mas que pode ser muito melhor descrito como “sub consumo”. Obviamente, esse defeito no sistema atual só pode ser corrigido trazendo um padrão de vida muito mais elevado, quando as pessoas são capazes de consumir a imensa produção da ciência e da técnica modernas. Infelizmente, o sistema individualista força a redução do poder de compra na forma de salários ou lucros durante um período de fartura, por causa da intensa competição para vender mercadorias num mercado já super estocado, o que obriga os fabricantes a baixar os preços numa tentativa de capturar mercado. Sob o fascismo, entretanto, os preços e os termos da competição serão controlados, e nenhum fabricante terá permissão para suar seus trabalhadores contra os regulamentos de sua empresa, a fim de roubar uma marcha sobre seus concorrentes. Não apenas o declínio do poder de compra será controlado por esse meio, mas todo o sistema salarial poderá ser permanentemente aumentado por meio de uma ação conjunta em todo o campo da indústria. Obviamente, tal ação é perfeitamente sensata e tem sido defendida por vários homens públicos nos últimos anos, mas infelizmente não pode se realizada no atual sistema individualista, pois se qualquer empregador fosse tolo o suficiente para tentar aumentar os salários de seus trabalhadores na causa de recuperação nacional, ele logo encontraria muitos concorrentes anti patrióticos que iriam cortar os seus e expulsá-los do mercado. É apenas sob a disciplina e controle do regime fascista organizado que tal política poderá ser executada com sucesso.


Da mesma forma, o grande flagelo do desemprego também pode ser curado, pois é óbvio que isso é puramente o resultado da completa desorganização de nossa economia nacional. Deve haver, a qualquer momento desse país, certa quantidade de trabalho calculada em horas-homem, que precisa ser feita, e certo número de trabalhadores ansiosos por fazer essa obra. Certamente, o trabalho pode se estender ao número total de trabalhadores por meio de um reajuste da jornada de trabalho, como se faz atualmente na Itália, onde agora está sendo introduzida a jornada semanal de 40 horas. Na verdade, o governo fascista desse país prefere buscar uma solução mais benéfica no sentido de elevar o padrão de vida das pessoas ao invés de encurtar as horas de trabalho, mas em qualquer caso, o problema do desemprego torna-se completa e permanentemente solúvel na organização de um Estado Corporativo planejado.


A Função das Finanças

Um dos principais defeitos do sistema atual tem sido sua incapacidade de imbuir as várias ocupações e profissões da sociedade dum sentido de seu propósito funcional de servir ao todo. Isso levou aos piores resultados no domínio das finanças, onde o poder do dinheiro foi vergonhosamente explorado por banqueiros e financistas para seu próprio benefício. Na verdade, não é exagero que esse país, como muitos outros, é dominado por uma ditadura das altas finanças, que está muito mais interessada nos retornos lucrativos do mercado de títulos estrangeiros do que no bem-estar do povo britânico. A primeira e mais urgente tarefa do governo fascista será quebrar a atual ditadura das finanças internacionais e a substituir por um regime autoritário com poderes pela nação para impor um propósito funcional e social até mesmo aos interesses mais poderosos do país.


A função do dinheiro, frequentemente esquecida na atualidade, é facilitar a troca de bens e serviços. O fato de estarmos achando tão difícil trocar nossos bens e serviços hoje é uma indicação clara do fracasso das finanças em cumprir seu dever primordial para com a comunidade. Por mais habilidosos e ingênuos que sejam nossos técnicos e inventores, o padrão de vida das pessoas não pode ser elevado a um nível mais alto, a menos que moeda suficiente e outros meios de troca sejam colocados em circulação. Do contrário, o único resultado da invenção e da racionalização da indústria será o de jogar cada vez mais homens sem trabalho. Presentemente, sofremos de uma restrição muito grave de dinheiro, que é levada a cabo pelos bancos na prossecução de sua política de deflação. A razão para essa política é dupla. Em primeiro lugar, existe um certo nível de conservadorismo inato que ainda se apega ao padrão-ouro da moeda como uma última relíquia da era da troca. Em segundo lugar, os financiadores perceberem que uma restrição no valor do produto com o qual negociam o torna mais valioso e eles próprios mais poderosos. Por esses dois motivos, a quantidade de dinheiro em circulação não é adaptada, como deveria ser, ao volume de produção potencial do país, mas é restrita a uma proporção dos suprimentos de um certo metal precioso, o ouro, nos cofres do Banco Central. É evidente que os suprimentos disponíveis desse metal são inteiramente irrelevantes para o problema de distribuição que as finanças devem resolver e de fato, a quantidade de ouro em todo o mundo é lamentavelmente adequada para financiar os imensos poderes de produção da indústria moderna. Entretanto, em vez de expandir a moeda e o crédito para atender as necessidades do desenvolvimento industrial, nossos mestres financeiros estão se esforçando para voltar ao padrão-ouro, restringindo a produção aos limites estabelecidos pelo suprimento mundial de ouro. Sem dúvida, por esses meios os financiadores internacionais mantendo e estendendo seu controle sobre os assuntos mundiais, mas apenas às custas de condenar a maior parte do mundo à pobreza em meio à fartura.


O governo fascista insistirá na reversão desse domínio antinatural das finanças sobre a indústria. Deve ficar perfeitamente claro que as finanças têm uma função de serviço à indústria e não são de forma alguma adequadas para o governo da indústria que usurparam. Não apenas o incentivo à produção estrangeira em competição com a nossa por meio das flutuações estrangeiras da cidade de Londres deve ser encerrado, mas nossos financistas e banqueiros devem ser compelidos a enfrentar o problema de distribuição que eles tão sistematicamente negligenciaram no passado. Já mencionamos que o futuro de nosso comércio está no renascimento do mercado interno, e as finanças devem agora voltar sua atenção para os meios de realizar esse renascimento, aumentando o poder de compra das pessoas.


Isso envolve uma ruptura tremenda e revolucionária com todas as tradições mais sagradas do negócio bancário, pois a característica essencial do programa é que envolve o financiamento do consumo. Até agora, os banqueiros limitaram suas operações inteiramente ao financiamento da produção na esfera comercial, pois o negócio de pagamento a prazo não financia realmente o consumo, pois apenas o negócio de pagamento a prazo não financia realmente o consumo, pois apenas hipoteca o poder de compra futuro para o benefício das vendas imediatas. Precisamos encontrar algum método de financiamento de escala maior de salários e ordenados para liberar os poderes de produção. No momento, é claro, num sistema individualista envolvido em intensa competição, qualquer procedimento desse tipo é possível, e qualquer empregador que fosse ao seu banco e pedisse um cheque especial para pagar os salários mais altos seria corretamente condenado como um lunático, pois ele não poderia dar nenhuma garantia de que seus concorrentes fariam o mesmo ou não reduziriam seus salários para ganhar o mercado dele. Lord Beaverbrook, que frequentemente defendia salários mais altos, nunca foi capaz de superar essa dificuldade essencial.


A economia corporativa, no entanto, oferece uma solução imediata, pois o próprio propósito das Corporações é controlar e regular os salários e as condições de trabalho, de modo que se o Governo Fascista empreendesse uma política de salários mais altos, não haveria questão de não patriotismo ou firmas controladas por estrangeiros hesitando em tirar vantagem de seus concorrentes; todos seriam obrigados a obedecer aos mesmos padrões. Se o empregador então fosse ao seu banco e pedisse um cheque especial para realizar sua parte do programa, o banqueiro não teria dificuldade em atendê-lo, pois ele saberia que o aumento do poder de compra de toda a comunidade resultaria em pedidos maiores e maior prosperidade para a empresa particular com a qual estava fazendo negócios. É por esse meio que o fascismo elevaria o padrão de vida do povo e colocaria em circulação o maior volume de dinheiro e crédito que é necessário para financiar o aumento do poder produtivo da indústria.


É claro que essa política de expansão monetária deve envolver uma ruptura completa com o padrão-ouro, e os críticos mais conservadores podem temer pela estabilidade da moeda como consequência. O fascismo, no entanto, aponta que o dinheiro é na realidade uma reivindicação de bens e serviços, e que nenhuma pessoa em seus sentidos normais vai realmente a um banco e exige barras de ouro para suas notas monetárias; ele ficará perfeitamente satisfeito se puder trocar seu dinheiro por aqueles bens e serviços de que necessita. Agora, obviamente, há muitos bens e serviços disponíveis nesse país no momento: Armazéns estocados com mercadorias, de fato, mais de 2 milhões de nossos compatriotas oferecendo seus serviços em vão. Enquanto não emitirmos notas que sejam cobertas pelos bens e serviços disponíveis, não pode haver risco de inflação; assim, o fascismo se baseará na moeda na ampla base de todos os recursos produtivos da nação, em vez de no estreito e inseguro fundamento do Banco da Inglaterra.


Império Autárquico


A única crítica válida a essa política de organização corporativa da indústria, elevando, como o faz, o padrão de vida de todo o povo, reside no argumento de que esse país depende em grande medida do comércio exterior, e, portanto, não pode pagar um padrão de vida mais elevado do que seus concorrentes nos mercados do mundo. Esse argumento pode, de fato, ser refutado, entretanto, por referência ao exemplo de Henry Ford, que produziu o automóvel mais barato do mundo, pagando os salários mais altos. Capacitado para fazer isso pelo enorme mercado interno da América, o que lhe permitiu introduzir métodos de produção em massa e competir favoravelmente nos mercados de países com um padrão de vida muito inferior. Na verdade, estamos perdendo nossos mercados no exterior, não porque nossos produtos sejam mais caros do que os de nossos concorrentes, mas porque esses mercados estão sendo fechados para nós por barreiras tarifárias intransponíveis, por trás das quais as indústrias nativas estão se desenvolvendo rapidamente. Por mais baratos que os nossos produtos possam se tornar, não podemos esperar que outros países arruínem suas próprias indústrias e tirem seu próprio pessoal do trabalho para comprá-los. Em qualquer caso, os povos orientais, como os japoneses, podem superar nossos lances irremediavelmente quando a questão dos salários é levada em consideração.


O comércio de exportação não é em nenhum caso essencial para o bem-estar de um país, pois implica o envio de mercadorias para fora do país para consumo estrangeiro, em vez de mantê-las internamente para aumentar o padrão de vida da população local. Somente os magnatas financeiros da Cidade de Londres podem se beneficiar ao longo prazo com um excesso de exportações, em vez que é com base nesse excedente que eles fazem os grandes empréstimos estrangeiros, dos quais obtêm tais comissões generosas. As exportações só se justificam realmente para pagar as importações essenciais, e as importações deste país poderiam ser amplamente reduzidas com a exclusão de todos os bens importados que podemos produzir internamente. É um fato escandaloso que grandes quantidades de produtos manufaturados sejam importados para este país, que poderiam ser perfeitamente produzidos aqui, e não há desculpa para nossa negligência com a agricultura doméstica simplesmente porque nossos recursos não são suficientes para alimentar nossa população inteira; devemos produzir pelo menos o máximo da produção doméstica antes de mandar para o exterior o montante restante.


Mesmo depois de termos produzido a máxima variedade de bens neste país, seria inútil negar que não podemos nos tornar totalmente autossuficientes, mas, por outro lado, existem muito poucos produtos que exigimos que não podem ser encontrados em algum lugar do Império Britânico. O fascismo não é uma política estreita da Pequena Inglaterra, mas tem um grande plano imperial de desenvolvimento autárquico para oferecer ao Império como um todo. Uma parcela muito maior do mercado interno em expansão será oferecida aos domínios do que a oferecida em Ottawa, pois a concorrência estrangeira será totalmente excluída. Não pode haver dúvida de que o Império como um todo estará perfeitamente disposto a cooperar em tal sistema econômico, que formará um Império completamente autossuficiente, isolado dos efeitos das crises e depressões mundiais, e capaz de construir até um padrão de vida mais elevado do que o conhecido.


Finalmente, devemos imaginar os princípios corporativos do fascismo aplicados ao comércio internacional. O importador não poderá mais comprar no mercado que achar adequado, mas será obrigado a atuar por meio de uma Junta de Comércio Exterior, que utilizará o poder aquisitivo da nação, como forma de conquistar mercados de exportação. Desde o início, o fascismo adotará a política que a Grã-Bretanha compra daqueles que compram da Grã-Bretanha, e se algum país estrangeiro deseja nos vender bens que não temos, será obrigado a aceitar nossos bens em troca. À medida que outros países adotam métodos semelhantes, chegaremos finalmente a um sistema geral de troca organizada de país para país, que é o único meio prático de comércio internacional planejado, livre das maquinações das finanças internacionais e dos laços da usura internacional.


Ordem Mundial Corporativa


Não se deve presumir que o fascismo é totalmente autocentrado no sentido nacional. Certamente é uma característica essencial da filosofia fascista colocar o próprio país em primeiro lugar, mas seria precipitado supor, por conta disso, que o fascismo implica rivalidade nacional e pode levar à guerra por motivos econômicos. Ao contrário, um perigo muito sério do sistema atual é que a luta cada vez maior pelos mercados mundiais pode levar à guerra. Na verdade, no Extremo Oriente já ocorreram guerras pelos mercados, e foi apenas com dificuldade que as potências europeias evitaram ser arrastadas para a luta. Na verdade, o sistema corporativo de planejamento econômico minimizará o perigo da guerra, pois colocará as causas econômicas da guerra sob o controle humano consciente. Não será mais uma questão de cada país despejar um máximo de exportações sobre seus vizinhos, mas de governos autoritários em pleno controle corporativo de seus assuntos econômicos nacionais se reunindo para compartilhar e trocar as matérias-primas essenciais necessárias para seu desenvolvimento industrial. Como não há escassez dessas matérias-primas, e como de fato sua produção foi drasticamente reduzida para evitar inundações do mercado, não deveria haver nenhuma dificuldade em chegar a uma solução amigável para este problema relativamente simples, uma vez que as nações tenham abandonado a ideia ridícula de que eles podem se beneficiar arruinando uns aos outros. Rivalidade certamente existirá no mundo do futuro, mas rivalidade em conquistas, não em competição. É somente nas linhas da organização corporativa da sociedade e da vida econômica que podemos alcançar a paz e a prosperidade em um mundo organizado. Vamos fazer a nossa parte, colocando em ordem nossos próprios assuntos nacionais e encorajando outras nações a fazerem o mesmo.


FONTE: Fascist Voices: Essays from the'Fascist Quarterly' 1936-1940 - Vol 1, Sanctuary Press Ltd,  pp.105-112


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